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I'm Here, EUA, 2010
(Curta Metragem)
Direção: Spike Jonze
Que
dó! Que dó! Que dó! É o que me vem na cabeça depois de ver esse curta. Como
pode alguém se doar tanto a ponto de se anular de tal maneira diante do outro?
Você pode (e deve, eu acredito) amar por inteiro, de corpo e alma, pra toda a
vida, mais que tudo, mas acima de tudo você tem que se amar. Como a gente pode
amar o outro sem se amar primeiro?
A
primeira doação, a do braço, me deixou maravilhado. Pensei “que lindo!”,
“nossa, que cena mais linda” “é uma das mais lindas que eu vi”! Que incrível
uma “pessoa” doar seu braço por amor! Não dá pra imaginar prova de amor mais
sincera que essa! A música tema também é linda! “There are many of us for you to turn./ There are many of us for you to
share” (Há muitos de nós com quem você pode contar. Há muitos de nós com quem você pode
compartilhar.) Mas o filme (na minha opinião) mostra exatamente o contrário. As pessoas são
egoístas, só pensam em si. Doe um braço que vão te pedir a perna. Doe uma perna
e vão te pedir teu corpo inteiro.
O
personagem vai se anulando, vai se mostrando um zero à esquerda. Isso fica mais
do que claro quando ele convence a menina a aceitar a perna: “Eu sonhei que todo
mundo tentava te dar uma perna e você escolheu a minha. E isso me deixou tão
feliz”. Ou seja, como se já não bastasse ele querer se doar, ele ainda se sente
um privilegiado por isso! Ele não doa porque ama, ele doa porque não se ama ...
e precisa desesperadamente ser amado. Olha pra mim! Presta atenção em mim!
Estou aqui! I’m Here!
O personagem Sheldon me lembrou muito Macabéia de "A Hora da Estrela" (Clarice
Lispector). Ela pedia desculpas por ser humilhada. Ele pede “Pelo amor de Deus,
deixa eu me anular pra você!”. Não sei porque, mas a personagem da Clarice me
deu compaixão, o personagem do Spike Jonze me provocou um sentimento de
revolta. Talvez por machismo da minha parte, de não conseguir conceber uma postura dessas para um homem. Senti raiva dele por ser tão benevolente, e mais ainda da namorada por
aceitar a postura dele. Pra mim, a postura dela foi egoísta e cruel. Ela deu
mais valor ao próprio bem estar do que ao amor que sentia por ele. Quem ama
cuida, já diz o ditado.
Por outro lado, fiquei abismado em perceber como é possível transmitir sentimentos só com os
olhos e a boca. Os personagens do filme não têm músculos na face pra mexer, e
mesmo assim demonstram todos os sentimentos possíveis de um ser humano.
Impressionante!
Gosto
muito dos filmes do Spike Jonze. Eles são malucos, oníricos, modernos,
inovadores. Acho que ele consegue ser surrealista de uma forma cativante e
tocante. Amo “Quero
Ser John Malkovich” e “Adaptação”, mas o melhor filme dele, pra mim, ainda é “Onde
Vivem os Monstros”.
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