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Le Charme Discret de La Bourgeoisie
Le Charme Discret de La Bourgeoisie
França / Itália / Espanha, 1972
Direção: Luis Buñuel
Direção: Luis Buñuel
Há
alguns anos assisti a “Um Cão Andaluz”, o filme mais conhecido de Luis Buñuel,
e confesso que não o compreendi muito. Na verdade, eu acho que não há mesmo o
que compreender porque o filme é uma compilação de cenas surrealistas que
remetem a sonhos e ao inconsciente, como uma tentativa de traduzir em imagens o
fluxo de pensamentos do cérebro. O filme tem a cena clássica (e aguniante) da
navalha perfurando um olho e foi dirigido juntamente com Salvador Dalí, que foi
amigo de Buñuel.
O
“Cão” pra mim parece uma sequencia de bizarrices pra tentar mostrar um estilo
inovador. Por isso assisti a “O Discreto Charme da Burguesia” com um pouco de
pé atrás, preguiça (apesar de certa curiosidade em assisti-lo). E de fato, achei o filme interessante, mas nada extraordinário,
nenhuma obra de gênio.
A premissa inicial é a de um jantar que nunca acontece. Cada hora surge um empecilho
diferente e parece que é impossível juntas os três casais para fazerem uma
refeição até o fim. A valorização das aparências é gritante (como numa cena em que um padre é
hostilizado ao aparecer vestido de jardineiro e, logo em seguida, é
referendado ao retornar vestido de religioso).
Há
uma série de críticas aos endinheirados, à burguesia. Segundo Buñuel eles são
fúteis, corruptos, criminosos, hostis, hipócritas, adúlteros etc., ou seja, são
seres humanos desprezíveis. Esse “nariz empinado” fica claro, por exemplo, na
cena em que um dos burgueses chama o chofer para experimentar um dry Martini
só para provar que ele não tem classe. Depois que o funcionário sai de cena
eles fazem questão de subjugá-lo:
“Maurice é um homem do povo. Não teve educação”. E completa: “Aucun système ne pourra jamais donner au
peuple le raffinement souhaitable” (“nenhum
sistema poderá jamais dar ao povo o refinamento desejável”). Ou seja, quem
é pobre não tem classe. Mas essas pessoas são tão hipócritas que, algumas cenas antes, uma das burguesas fala que a
outra bebe até vomitar.
É divertido observar as diversas situações absurdas que aparecem no filme: o
velório do chef que acontece dentro do próprio restaurante, a cafeteria em que
está em falta café, leite, chá e praticamente só tem água pra servir, o casal
que pula a janela pra fazer sexo e não ser interrompido pelas visitas, etc.
Outro aspecto importante
é o sonho, praticamente o tema principal do surrealismo, tanto que o
filme chega à maluquice de mostrar um sonho dentro do sonho de outra pessoa.
Essa cena me lembrou “A Origem” do Christopher Nolan, que mostra bem essa ideia de sonho em camadas. Além de fazer referência ao sonho
propriamente dito, o filme de Buñuel é cheio de situações esquisitas que seguem a lógica
do sonho, ou seja, a falta de lógica. Por exemplo, a empregada fala que
tem 52 anos e tem cara de 30. Nem tudo é o que parece ser.
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