quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Parceiros da Noite (1980)


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Cruising, EUA, 1980
Direção: William Friedkin

Um filme de 1980, com Al Pacino fazendo papel de policial que se infiltra no submundo gay S&M novaiorquino para descobrir a identidade de um serial killer. O tema é no mínimo curioso, com direção de William Friedkin, dos geniais "O Exorcista" e "Operação França", dois marcos do cinema de todos os tempos, e que ano passado lançou o também ótimo "Possuídos". Além disso tudo, o filme figura entre os melhores da década de 80 no livro "Movies of the 80's" da editora Taschen. Na época, "Parceiros da Noite" foi rechaçado pela crítica e pelo público, principalmente pela forma negativa e "underground" que retrata o universo gay. Hoje, no entanto, é super elogiado. Foi recentemente lançado em DVD e para divulgação foi exibido em cópia restaurada no Festival de Cannes. Com tanta expectativa, não pude deixar de me frustrar um pouco com o filme. É verdade que tem muitas qualidades, dentre elas a atuação estupenda de Al Pacino, mas está longe de ser uma obra-prima do calibre dos dois títulos mais famosos do diretor.

Um Texto Curioso (de Rodrigo Fonseca, O Globo Online):

"Coisa Ruim que persegue William Friedkin desde "O exorcista" parece tomar uma ducha de água benta nos chifres toda vez que o veterano cineasta vem a Cannes, onde ele é tratado como se fosse um dos maiores realizadores de todos os tempos. De fato, ele tem trabalhos que o credenciam entre os maiores. Mas nesta 60ª edição até o balado Quentin Tarantino tirou a coroa para ele. Há dez minutos terminou a sessão da cópia restaurada de "Parceiros da noite", filme que há 28 anos foi defenestrado por crítica e público, especialmente pelas porções GLS de ambos por seu retrato perturbador dos clubes homossexuais de sadomasoquismo.Passadas quase três décadas, o filme ganhou na Croisette um destaque de dar inveja a qualqurer ganhador de Palma de Ouro. Friedkin foi ovacionado de pé, sendo que os aplausos e uivos mais fortes vieram de Tarantino, que deixou a divulgação de seu "Death proof" de lado para prestigiar o colega mais experiente.Tarantino se dividia entre gargalhadas saborosas de prazer com as cenas mais trash do filme e entre as carícias de uma turbinada loura, que ele carregava a tiracolo. "Desculpe, ir ao cinema para mim é como ir à igreja", disse ele a um rapaz que tentava lhe presentear com um DVD. "Você pode até deixar na portaria do meu hotel, mas aqui não dá"."

Crítica muito bem escrita por Rodrigo Carreiro:

Hollywood pode até perdoar um fracasso, mas não dois – e muito menos quando esta segunda chance afunda após gerar enorme repercussão negativa. Pois foi exatamente isso o que ocorreu com William Friedkin. O garoto de ouro da geração chamada de New Hollywood, vencedor do Oscar de direção aos 36 anos (“Operação França”), começou a ter o prestígio ameaçado com o desastre de “Comboio do Medo”, um filme que custou quase dez vezes mais do que havia sido previsto. Mas foi com o thriller “Parceiros da Noite” (Cruising, EUA, 1980) que Friedkin assinou o próprio rebaixamento para o terceiro escalão da indústria do entretenimento, quase enterrando a própria carreira. Culpa dos movimentos GLS. Antes mesmo de o filme ser lançado, ativistas se lançaram em uma campanha agressiva contra a obra. Todo mundo imaginava que um filme sobre um serial killer que matava homossexuais era fruto político da visão moralista e conservadora da indústria do cinema. Colunistas famosos de jornais importantes, como o Village Voice, aderiram à campanha. Ativistas a favor dos gays faziam panfletagem contra o filme nas filas dos cinemas. “Parceiros da Noite” atingiu até mesmo Al Pacino, o ator mais quente daquele momento, cuja carreira desceu ladeira abaixo (ele só viria a se recuperar do golpe quase dez anos depois). Tudo isso porque se achava que o longa-metragem apresentava uma visão preconceituosa e homofóbica da subcultura gay. Verdade ou mentira? Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Quem conhece a obra de William Friedkin sabe que ele sempre se interessou por personagens impulsivos, atormentados, torturados, com uma queda pelo sofrimento auto-imposto – não esqueçamos que Popeye Doyle, o tira durão de “Operação França”, gostava de apanhar de mulher, e de ser algemado à cama por prostitutas. O gosto pela dor não apenas marca presença forte neste filme, mas é absolutamente adequado ao tipo de vida levado pela fauna humana que Friedkin está interessado em radiografar. E a radiografia do submundo gay aparece, ainda que filtrado por uma visão nitidamente espantada, de modo acurado. A produção é irregular, mas funciona como thriller e como estudo de personagem. (...)

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