domingo, 7 de novembro de 2010

Mostra 2010 - Dia 06/11

O Mágico ***

Segundo longa de animação do francês Sylvain Chomet , de “As Bicicletas de Belleville”, com mesmo estilo nostálgico, é baseado em roteiro do renomado cineasta francês Jacques Tati, que consiste, na realidade, em uma carta que escreveu para a filha ilegítima, que não chegou a entregar a ela.


Conta a história de um mágico que enfrenta problemas por ser preterido por estrelas de rock e acaba tendo que se submeter a trabalhar em bares, festas, teatros baratos e até em uma loja de roupas. No seu caminho, encontra uma menina que se torna sua fã e passa a acompanhá-lo na sua difícil e nova trajetória.


O filme é uma preciosidade. Tem pouquíssimos diálogos, vários momentos engraçados, mas o que predomina a maior parte do tempo é uma certa tristeza e melancolia, traduzindo de forma perfeita os sentimentos que serviram de inspiração para a criação da história.

Abaixo transcrevo uma reportagem que conta em mais detalhes a história por trás da história deste filme.


O filme perdido de Jacques Tati é uma carta à filha ilegítima

O realizador de “Belleville Rendez-Vous” adaptou o último guião [roteiro] de Jacques Tati. “L’illusionniste” estreia-se no Festival de Berlim este mês

Jacques Tati foi tão desastrado com a filha Helga como a sua personagem cómica, o Monsieur Hulot, em “Mon Oncle”. Tal como no episódio da cozinha moderna, Tati queimou-se e não conseguiu abrir uma única porta. O realizador francês morreu sem conhecer a filha e sem lhe responder a uma única carta ou telefonema. Foi a irmã de Tati que o convenceu a não se casar com a mãe de Helga, Herta, uma bailarina austríaca que conheceu no Teatro de Paris. Nathalie obrigou Herta a assinar um documento legal, em troca de dinheiro, aceitando nunca exigir nada ao pai da criança.

O escândalo foi abafado, mas no teatro de Paris, onde Tati e Herta trabalhavam, todos sabiam da história. Terá sido a vergonha a impedir Jacques Tati de assumir a filha; mesmo assim tentou uma aproximação. Escreveu-lhe uma carta em forma de guião que nunca lhe entregou. “L’illusionniste” chega até nós pelas mãos do realizador de “Belleville Rendez-Vous”, Sylvain Chomet, e estreia-se este mês no Festival de Berlim envolto em polémica.

O último guião de Tati conta a história de um mágico famoso em decadência. O ilusionista foi afastado dos grandes teatros e contenta-se com festinhas de família e actuações em bares. É numa dessas festas que encontra uma jovem que vai mudar-lhe a vida.

É uma história de amor entre pai e filha que se acredita ser uma carta a Helga Marie-Jeanne Schiel. A família ilegítima de Tati, os únicos vivos, acusam o realizador Sylvain Chomet de não revelar que a verdadeira inspiração foi Helga.

Sylvain Chomet recebeu o guião em 2000 de Sophie Tatischeff, a filha legítima. O cineasta contactou a herdeira de Tati para lhe pedir permissão para incluir um clip do filme “Jour de Fête”, em “Belleville Rendez-Vous”. “O grande cómico francês escreveu o guião ‘L’ilusionniste’ e tinha intenção de o filmar com a sua filha”, disse Sylvain Chomet. E mais não acrescentou acerca da polémica.

drama familiar

Helga sempre soube quem era o seu pai. Mas só teve coragem de lhe escrever na adolescência. Jacques Tati já era o aclamado realizador francês, com um sentido de humor apurado, vencedor de um Óscar. Helga estava num orfanato em Marrocos quando escreveu várias cartas ao pai e tentou contactá-lo de todas as formas. Nunca obteve resposta. Foi nessa altura, em 1956, que Jacques Tati escreveu o argumento deste filme. Originalmente estava escrito como uma carta e só agora foi tornado público. Casada, com filhos e netos, a viver no Reino Unido, Helga só revelou a história depois de saber da existência deste filme.

por Vanda Marques com Sandra Pereira, publicado em 04 de Fevereiro de 2010 no site português www.ionline.pt

Beyond ****

Co-produção entre Suécia e Finlândia, que ganhou nesta Mostra o Prêmio Especial do Júri e menção especial para a atriz Noomi Rapace. É um drama familiar denso sobre uma menina que é forçada a amadurecer rapidamente para proteger o irmão mais novo do ambiente hostil e deprimente em que vivem, em meio às constantes brigas dos pais, que estão sempre embriagados e se agredindo mutuamente.


Já adulta, casada e com duas filhas, a personagem recebe um telefonema de um hospital informando que sua mãe está à beira da morte e deseja reencontrá-la, situação que a obriga a relembrar o passado e encarar seus fantasmas, que incluem o sentimento de culpa por não ter sido capaz de proteger o irmão do pesadelo provocado pelos pais.


José & Pilar ****

Rodado durante 3 anos (de 2006 a 2008), este documentário acompanha a corrida rotina do escritor português José Saramago. Coletivas de imprensa em um país, tardes de autógrafos em outro, entrevistas e incontáveis eventos faziam parte do dia-a-dia do renomado escritor.


Administrar esta agenda de estrela internacional seria impossível não fosse a presença de sua esposa, a jornalista Pilar Del Río, que cuidava de cada mínimo detalhe da agenda profissional do marido, demonstrando o companheirismo e o amor de um relacionamento de quase 30 anos.


Além do dia-a-dia profissional e pessoal do casal, o documentário acompanha ainda o processo criativo do livro “A Viagem do Elefante”, penúltimo livro do escritor, que faleceu aos 87 anos, em junho deste ano.

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