segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mostra 2010 - Dia 31/10

Domingo, dia de eleições presidenciais. Fiquei com preguiça de assistir ao primeiro filme que tinha programado, “Amizade”. Resolvi descansar um pouco depois das 5:30 de Carlos de ontem e fiquei em casa até o fim da tarde. Cheguei no colégio pra votar às 16:55. Me programei dali direto pro cinema. As duas próximas sessões eram no “Matilha Cultural”, um cinema pequeno e simpático na Rua Rego Freitas, perto da Praça Roosevelt, com vários cães “adotáveis” correndo soltos no hall de entrada. Ali os ingresso são gratuitos e, por isso, não podem ser retirados antecipadamente, somente no próprio dia, uma hora antes da sessão. A maioria das pessoas assistiram “Todo Dia É Feriado” somente para garantir lugar para a sessão de “Aprendiz de Alfaiate”, estréia do ator Louis Garrel na direção.

Todo Dia É Feriado -
Num deserto do Líbano, um ônibus leva mulheres, esposas de bandidos, em direção a um presídio onde vão visitar seus maridos. O ônibus é alvo de um atentado em que o motorista é atingido por uma bala na cabeça, e elas são obrigadas a caminhar pelo deserto. O filme acompanha três dessas mulheres e suas aflições. Monótono e sem qualquer traço de emoção, nada de muito relevante acontece.



Aprendiz de Alfaiate **
Estréia promissora na direção do ator “queridinho” do cinema francês atual, Louis Garrel, filho do renomado diretor Philipe Garrel. Com bela fotografia em preto e branco, o filme acompanha a vida de um jovem alfaiate que é escolhido por seu chefe, um senhor de 80 anos, para assumir seu ateliê, uma vez que este está prestes a se aposentar. No entanto, o jovem se apaixona por uma atriz, que o faz repensar sobre os rumos que está tomando para sua vida.

A cena em que o Arthur, o aprendiz, tira as medidas do corpo da namorada enquanto ela dorme, a fim de confeccionar o vestido que lhe dará como presente, é de uma beleza comovente.

Tanto ela como ele são jovens em conflito com as suas escolhas. Ela, uma atriz que não sabe se quer continuar atuando. Ele, um alfaiate que se acha sem talento (desculpa-se até mesmo com a namorada porque o vestido, apesar de ter sido feito por ele, foi baseado num desenho que não é de sua autoria).

Ano Bissexto ****
Filme mexicano pesado sobre uma jornalista confinada em seu apartamento, que encontra no sado-masoquismo uma forma de exorcizar a tristeza pela morte do pai, quebrar a monotonia e a solidão quase insuportáveis de seu cotidiano. Ela encontra na tortura física o carinho e a atenção que sempre desejou.

Contém cenas fortes de sexo quase explícito com agressões crescentes, que apesar de consentidas pela protagonista, provocam desconforto em grande parte da platéia (o que fez com que diversas pessoas abandonassem o cinema na sessão em que eu assisti).

A nudez e o sexo são muitas vezes utilizados de forma gratuita e apelativa no cinema. Não é este o caso. Aqui eles são fundamentais para se acompanhar a angústia da protagonista e retratar os sentimentos que vão sendo aflorados, até culminar no clímax que dará sentido à trajetória da personagem.

Logo no início do filme há uma cena muito significativa e original, em que a protagonista se satisfaz sexualmente ao observar o casal vizinho não fazendo sexo, mas em situações meramente cotidianas, demonstrando o desejo que ela tem em encontrar alguém que a ame.

Há diversos outros detalhes simbólicos, como os vasos de flores na janela dos vizinhos. No início do filme não há qualquer vida ali, no final do filme a vizinha rega pequenas mudas que começam a nascer, como se representasse um renascimento, o início de um novo ciclo que se encerrou no fatídico dia 29 de fevereiro, que caracteriza os anos bissextos e tem papel fundamental na história.

Outro detalhe que chama a atenção é que sempre após o sexo ele aparece sentado no sofá, completamente vestido, enquanto ela permanece nua, deitada, com a cabeça sobre seu colo, reforçando a relação de submissão e a necessidade que ela tem em ser amada.

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