Hermano ****
Essa história tem temática muito parecida com a do brasileiro Bróder (até no nome), só que nesta aqui os personagens são irmãos de fato (ou pelo menos de coração, porque um deles é adotado). Mostra a vida difícil dos irmãos na favela, o sonho de deixar as dificuldades pra trás e o esforço em não se perder no tráfico e na violência locais. Os dois jogam futebol e o sonho de melhorar de vida e deixar a favela parece prestes a se realizar quando um olheiro de um grande clube de Caracas chama os irmãos para um teste. É o segundo ótimo filme venezuelano que vejo na Mostra. Este é inclusive o candidato do país à vaga do Oscar 2011. Neste filme, assim como em Bróder, a relação dos personagens vai ser posta em prova a partir de uma situação que obriga um dos personagens a fazer uma escolha, uma renúncia, para provar que realmente é “irmão”, no conceito mais amplo da palavra.
Esse filme me fez refletir sobre essa oposição entre final original x final clichê. Quando o filme foi chegando perto do fim imaginei que o menino ia virar craque de futebol, ou melhor, que os dois irmãos conseguiriam entrar no clube, e pensei como seria chato e clichê se isso viesse a ocorrer. Mas aí então veio o final, e não foi nada disso que eu tinha imaginado, foi bem diferente do esperado e se for pensar friamente foi uma solução muito inteligente. Mas daí cheguei a uma conclusão: no fundo eu prefiro os finais convencionais, hollywoodianos mesmo. É tão frustrante ver um final triste. Não que esse seja totalmente triste, mas a gente torce o filme inteiro pelo personagem mais equilibrado e no final o sem noção termina bem e o merecedor se ferra. Porém, como já disse, o conceito de ser “irmão” é justamente o de abdicar da sua felicidade pra que o outro seja feliz. Louvável, heróico, mas triste.
Comédia com alguns bons momentos sobre um casal que se separa e decide continuar morando junto até venderem a casa. Os dois fazem de tudo para provocar ciúmes um no outro, levando affairs para casa, o que faz com que sentimentos aflorem e as brigas se acirrem cada vez mais. Esperava mais desse filme finlandês. Apesar de divertido, se estende demais na premissa do jogo de ciúmes e ainda conta com uma trama paralela que envolve um esquema de prostituição que não dá qualquer liga com a história principal. A maior vantagem de ter assistido a esse filme foi pegar lugar bom pra sessão seguinte (“Air Doll”) que foi também na sala 1 do Reserva Cultural e ficou lotada a ponto de várias pessoas sentarem no chão.
Air Doll ****
Em “Air Doll” a própria boneca é a protagonista, personificando uma espécie de “Emília” ou “Pinóquio” dos tempos modernos. Alternando entre a comédia e o drama, o japonês Hirokazu Koreeda propõe uma tocante reflexão sobre o amor e a solidão. Du-na Bae, curiosamente uma atriz sul-coreana, interpreta a personagem de boneca inflável de maneira quase brilhante. Desde os primeiros momentos em que o corpo vai tomando forma humana, os gestos desajeitados nos primeiros passos e toda a inocência com que descobre a cidade de Tóquio são emocionantes.
Aos poucos a boneca vai estabelecendo relação com as outras pessoas, tornando-se cada vez mais humana. São diversas as metáforas proposta no filme, o que nos incita a assisti-lo várias vezes até extrair todas as nuances, todos os significados por trás de cada frame.
Em uma das primeiras cenas, ela senta ao lado de um senhor e lhe pergunta: “Você também é vazio por dentro? Há outras pessoas como eu?”. E ele responde que há muitos por aí como ela, inclusive ele mesmo. Assim como ela serve para o dono como uma substituta para um amor que ele perdeu, ele, o senhor, conta que é professor substituto em uma universidade, sendo requisitado somente quando o titular não vai.
Com cenas como esta, o filme provoca reflexões sobre o vazio da existência humana contemporânea, sobre a adaptação de uma criança ao mundo adulto, sobre vida e morte, sobre o poder repressor do homem e a banalização do sexo feminino como objeto sexual, e até mesmo sobre a necessidade do ser humano em explicar sua própria existência. Quando ela vai até a fábrica de bonecas, conversa com o seu criador, que lhe diz “O livre arbítrio não é mais do que uma ilusão. Todas acabam voltando”.
Apesar do final exageradamente tráfico, o filme emociona do começo ao fim.
Ao assistir ao trailer imaginei um filme no estilo de Matrix. Fiquei curioso para assisti-lo também porque é protagonizado pelo ótimo Gregoire Leprince-Ringuet (de "Canções de Amor" e "A Bela Junie"). É um drama francês meio estiloso, com visual moderno, que mostra um videogame em que os jogadores são estimulados a se suicidarem na vida real. Dessa premissa poderia ter surgido um ótimo filme, mas o que vi foi um suspense obscuro bem cansativo que dá vontade de dormir.
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