quinta-feira, 16 de março de 2017

Luís Antônio-Gabriela

Muitas vezes as pessoas deixam pra olhar pro que realmente importa quando a vida passa. Por que esperar tanto tempo para se entregar por inteiro se o afeto vem de uma fonte ilimitada que é a vida que tem dentro da gente? E ele está aqui, agora, hoje, amanhã e depois. Sempre.

 

Cada dia que passa eu percebo como eu amo amar as pessoas, e que o medo que eu às vezes sinto tem a ver com o medo de não saber lidar com o tanto de amor que eu tenho pra entregar. Porque ele vem grande, vem vasto, vem de baciada, pra todos, sem distinção. Eu não quero mais ter medo de amar.

 

Hoje eu me deparei com esse trecho incrível que guardei quando assisti ao espetáculo Luís Antônio-Gabriela, de Nelson Baskerville. Não sei porque  guardei e não compartilhei. Hoje me deu vontade de compartilhar.

 

“Não tenho arrependimentos nesta vida, tudo que eu fiz foi por amor, o mais simples dele. Não sei por que as pessoas escondem aquilo que mais querem. É gostoso dar. Eu gosto de dar. Eu gosto das pessoas. Eu olho nos olhos delas, onde quer que elas estejam, e existe algo que me chama, como se só eu pudesse alcançar isso naquele momento. Seus olhos me pedem abrigo e o abrigo que eu sei dar é esse, porque não tive outro tipo de abrigo.

 

Eu aprendi a amar na rua, não em casa. Na rua, a gente ama sem mesquinharia, é pra todo mundo, sobra amor, sobra jeito de amar. Eu amo dando prazer e me sinto amado recebendo prazer. É bom, não é? Eu saio na rua e quero ver todos os sorrisos que eu não pude dar, e o que eu tenho pra dar, eu dou. Vou ficar regulando afeto? Regulando prazer? Me regulando pro outro? A vida é tão curta e a gente fica se dando em pedaços ...

 

Eu só consigo estar inteiro o tempo todo com quem estiver comigo, e estar inteiro é se dar inteiro. Eu cedo minha casa, minhas roupas, meu alimento, meu corpo, porque nada me pertence de fato. Está tudo aí pra ser dividido. Partilhar é melhor que acumular. Eu não sei acumular afeto. Ele vaza, nas ruas, nos bares, nas esquinas, vazou em casa. A maneira pela qual eu soube demonstrar o meu carinho, dentro da minha confusão, eu demonstrei.

 

Trepar é meu carinho, é como um beijo, como um abraço, como ceder um cobertor. Por que eu vou fazer pela metade? Ceder o cobertor ao mendigo e não a companhia pra dormir? Eu não entendo. Eu sou o brinde que vai junto com o cobertor, sou um brinde que vem junto com o a vida, pra todo mundo. Acho que todos somos brindes.”

 

 

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