sábado, 16 de janeiro de 2010

33ª Mostra de Cinema de São Paulo

Depois que descobri que tenho DDA (Distúrbio de Déficit de Atenção) não me sinto mais tão culpado pela minha incapacidade de descrever os filmes que assisto. É ótimo ter uma sigla como desculpa para apenas classificar os filmes por nota, e não me dar ao trabalho de analisar criticamente as obras que assisto. Afinal de contas não ganho nada por isso. Mas às vezes me esforço um pouquinho e dedico algumas horas para tentar escrever sobre alguns filmes que vi. O pior é que passa um dia e eu já não me lembro direito nem sobre o que o filme tratava. Mas a Mostra de Cinema de São Paulo, especialmente, funciona como um estímulo pra mim. Às vezes. Sei lá. Vou tentar.

EXCELENTES ****
1.
I Love You Philip Morris
Jim Carrey interpreta um estelionatário gay, mestre em fazer-se passar por expert em qualquer profissão, o que o permite desfrutar de uma vida de alto padrão, e em uma de suas passagens pela prisão se apaixona pelo personagem interpretado por Ewan McGregor. O filme tem um roteiro incrível, cheio de reviravoltas. Quando você pensa que a história vai desandar vem um fato novo que te prende novamente. Genial! E ainda tem a curiosa participação de Rodrigo Santoro como o primeiro namorado do protagonista, dessa vez com participação importante na história, com direito a uma cena dramática impecável.

2. Eu Matei Minha Mãe
Filme canadense, falado em francês, sobre um jovem de 17 anos que vive com sua mãe, a quem não suporta e vive uma relação conturbada, movida a gritos e agressões mútuas. Retrata a dificuldade do filho em aceitar a mãe, assim como da mãe em reconhecê-lo e aceitá-lo nessa nova fase da vida. Creio que nunca vi uma relação mãe-filho tão bem retratada, tão bem desenvolvida num filme.

3.
A Vida em Bloco
É raro ver filmes venezuelanos por aqui, até mesmo na Mostra. Só esse fato já me despertou curiosidade em assistir a esse filme. E foi uma das maiores surpresas que tive. São duas histórias independentes que se passam num condomínio residencial pobre de Caracas. A primeira retrata um homem asqueroso e alcoólatra que agride todos à sua volta, até que conhece uma garçonete que o faz mudar a forma de encarar a vida. Na segunda história uma mulher rica e seus dois filhos são obrigados a mudar para um quarto abandonado, vizinho ao da doméstica que trabalhava para a família, após o patriarca ser preso diante do desbaratamento de um alto esquema de corrupção do qual participava.

4.
O Sol do Meio-Dia
Melhor filme nacional que assisti esse ano. Não à toa ganhou o prêmio de melhor longa brasileiro, segundo à crítica, embora às vezes elejam filmes um tanto controversos. Dirigido por Eliane Caffé (que anteriormente dirigiu o chatérrimo “Narradores de Javé”, de 2003), protagonizados pelos ótimos Luiz Carlos Vasconcelos e Chico Diaz (que dividiram o prêmio de melhor ator no Festival do Rio), o filme se passa em uma região pouco explorada pelo cinema nacional, os arredores de Belém do Pará. De início, a amizade entre duas figuras rudes e totalmente opostas dá ensejo a uma espécie de viagem de fuga e redenção. Quando seguem rumo à capital paraense, entra em cena uma mulher, que desperta os desejos dos dois e a relação de amizade transforma-se em rivalidade, trazendo à tona segredos de cada um deles.

5.
Mother
Melhor oriental dessa safra, dirigido pelo sul-coreano Bong Joon-Ho, do excepcional “O Hospedeiro”, de 2006. A mãe do título cuida do filho de 27 anos, que apesar de adulto e saudável, tem atitudes meio debilóides, que trazem risco para sua própria integridade física, o que faz com a mãe fique ainda mais apreensiva. Até que um crime é cometido na cidade e o filho é indicado como principal suspeito. A partir daí a mãe inicia uma busca frenética para provar sua inocência, mesmo se deparando às vezes com informações que apontem para sua culpa.

6.
Cúmplices
Esse ano os organizadores da Mostra capricharam no fim de semana da “repescagem”. Este francês foi o segundo filme que assisti no último domingo da Mostra e foi outra grata surpresa. Casal se apaixona à primeira vista em um cibercafé e iniciam um romance avassalador. Dois meses depois, o rapaz é encontrado morto e a menina está desaparecida. Conforme um casal de policiais investiga os fatos que antecederam o crime, a história de amor vai sendo contada em flashback. O título denota tanto a cumplicidade entre os namorados em situações que o filme vai revelando, como também entre o casal de investigadores, que à medida que a trama se desenrola, têm aos poucos suas próprias questões íntimas e morais postas à prova.

7.
Metropia
Animação futurista em que o mundo está ficando sem petróleo e as cidades européias são interligadas por uma gigantesca rede de metrô que controla os pensamentos das pessoas. Aos poucos uma grande conspiração vai se revelando envolvendo uma estranha marca de xampu e a protagonista de sua campanha publicitária. O visual do filme é surpreendente. No final da sessão o diretor sueco se dispôs a responder perguntas da platéia e revelou que tentou imprimir um visual de sonho ao filme, e quis retratar uma Europa onde é terrível se viver. O filme foi todo feito em Photoshop e os rostos de alguns personagens foram inspirados em pessoas reais (o protagonista, por exemplo, é uma mistura de Vincent Cassel com Edward Norton e um garçom de um restaurante onde o diretor costuma almoçar).

8.
A Town Called Panic
Ao contrário de “Metropia” que tem um visual sisudo e depressivo, esta animação francesa feita em “stop motion” é cheia de cores vibrantes, com história divertidíssima! Mostra várias situações hilárias e surreais, como um cavalo tomando banho no chuveiro e escovando os dentes. Ou uma cena em que o cowboy deixa a caneca acidentalmente em cima do teclado e compra 50 milhões de tijolos pela internet, ao invés de 50. O cowboy e o índio tentam surpreender o cavalo com um presente de aniversário e acabam provocando um caos na cidade pacata onde vivem.

9.
Fish Tank
Filme inglês que retrata o cotidiano de uma adolescente que mora com a mãe e a irmã na periferia de Londres e sonha em ser dançarina de rap. A mãe é negligente e as duas praticamente só se comunicam por meio de xingamentos. Os conflitos familiares e a vida sem perspectivas da garota se modificam quando o novo namorado da mãe, bem mais novo que ela, passa a freqüentar a casa.

10.
O Menino Peixe
Segundo filme da argentina Lucía Puenzo, que estreou com o excelente “XXY”, com a mesmo atriz, a magistral e corajosa Inés Efron, que antes interpretava uma hermafrodita e agora interpreta Lala, uma adolescente rica que se apaixona pela empregada paraguaia de 20 anos que trabalha em sua casa. As duas planejam fugir juntas, o que é acelerado pela morte do pai de Lala. Trama cheia de mistérios e de fatos que vão sendo revelados em flashback.

11.
Carmo
Outro excelente filme brasileiro. Ganhou o prêmio do público como melhor longa nacional. O filme nem parece uma produção nacional (não que isso seja mérito ou demérito). Apesar de conter elementos batidos do cinema americano, com ritmo frenético e final feliz, o filme é delicioso! O desconhecido (pelo menos para mim) casal de protagonistas (o espanhol Fele Martinez e a paulistana Mariana Loureiro) é de uma química e de um carisma que dá gosto de assistir. Pesquisando sobre os dois, descobri que ele já fez 43 filmes, dentre eles “Fale Com Ela” e “Má Educação”, do Almodóvar, e “Abre Los Ojos”, com a Penélope Cruz. Ela fez “De Passagem”, “Garotas do ABC”, do Reichenbah e “Abril Despedaçado”, do Walter Salles. Não são fracos mesmo. O único porém do filme é a dupla de bandidos pessimamente interpretada por Seu Jorge e Márcio Garcia. O primeiro faz um gay super esteriotipado. O segundo faz um roceiro desdentado que causa constrangimento de tão ridículo. Os dois parecem personagens do “Zorra Total”. Mas isso não chega a estragar os méritos do filme, que é leve, divertido e emocionante.

12.
Dzi Croquetes
Não sou muito fã do gênero documentário, e são poucos os que eu assisto na Mostra, mas esse em especial é surpreendente. Trata de um grupo carioca performático e irreverente que marcou o cenário artístico nos anos 70. Vestindo roupas femininas extravagantes, eles dançavam, cantavam e faziam performances que confrontavam a ditadura e quebraram tabus. Fizeram um enorme sucesso na Europa e foram “amadrinhados” pela cantora Liza Minelli, que tentou levá-los para Nova York. É curioso perceber como o visual do grupo lembra o do cantor Ney Matogrosso, que assumidamente se inspirou neles para compor seu estilo e dá depoimento no filme. A co-diretora do filme é filha de um dos falecidos Dzi Croquetes, que através do filme presta uma belíssima homenagem ao grupo e ao pai.

13.
Julie & Julia
Confesso que tenho uma queda pelos filmes da Nora Epron. Sou apaixonado por “Sintonia de Amor” e “Mensagem Pra Você”. Adoro filmes “água com açúcar”, desde que tenham, claro, uma história “com pé e cabeça”, porque me fazem fugir da realidade (não que minha realidade seja dura a ponto de que eu tenha que fugir dela). Enfim, sou fã dessa diretora, e um filme dirigido por ela, protagonizado por Meryl Streep e Amy Adams, cujas histórias paralelas se passam em Paris e Nova York respectivamente, não teria como ser ruim. Novaiorquina residente do Brooklyn tem uma vida entediante e trabalho num cubículo numa repartição pública recebendo ligações das famílias das vítimas do 11 de Setembro. Pra fugir de toda essa frustração ela decide fazer algo diferente, e resolve cozinhar em um ano todos os 524 pratos de uma renomada culinarista e contar a experiência num blog. Paralelamente, a história da própria autora do livro, americana que viveu na França cinqüenta anos antes, vai sendo contada.

14.
À Procura de Eric
Não conheço muito da filmografia do inglês Ken Loach. Só assisti a “Ventos da Liberdade”, na Mostra de 2006, ano em que o filme ganhou a Palma de Ouro em Cannes, e a “Apenas um Beijo”, na Mostra de 2004. Seus filmes geralmente têm um fundo político forte e sempre tocam na questão da busca pela liberdade. O tema futebol não me animou muito, mas acabei me surpreendendo positivamente. O futebol é apenas um pretexto pra colocar o ídolo do futebol Eric Cantora (o Eric do título) como “amigo imaginário” do protagonista, que vive um dia-a-dia sofrido, solitário em sua rotina de carteiro, tendo que cuidar sozinho dos enteados quase marginais. O reconhecimento ao ídolo acaba o estimulando a enfrentar os fantasmas do seu passado, envolvendo o grande amor de sua vida e a filha que, por imaturidade, não ajudou a criar. O filme ainda conta com um clímax contagiante com uma seqüência magistral de heroísmo e superação.

15.
O Dia da Transa
Casado, levando uma vida de pai de família certinho, Ben recebe a visita inesperada de Andres, seu grande amigo da época de farras da faculdade. Essa situação desperta em Ben questionamentos sobre até que ponto seu casamento demonstra seu amadurecimento ou é apenas uma repressão à sua liberdade. A participação em um “projeto de arte” num concurso de filmes pornográficos em que os dois fariam “sexo heterossexual entre dois homens”, se é que isso seria possível, é apenas pretexto para situações hilárias e discussões interessantíssimas sobre as relações conjugais.

MUITO BONS ***
16.
Os Inquilinos
Os filmes de Sérgio Bianchi costumam ter um tom agressivo, provocando o espectador a ter consciência de que ele também é culpado pelos males da sociedade. O representante máximo desse estilo é “Cronicamente Inviável”, de 2000. Esse tipo de filme me irrita profundamente, mas “Os Inquilinos”, pra minha surpresa, foge totalmente dessa regra. O filme bem mais contido, e ao mesmo tempo intrigante e realista. Inova ao tratar a violência urbana brasileira de forma não espetacularizada. O cotidiano de uma família da periferia de São Paulo é abalado quando uma turma de sujeitos mal encarados muda para a casa ao lado. A tensão é crescente até se tornar insuportável, a ponto de fazer o pai de família se desequilibrar.

17.
Amanhã ao Amanhecer
Filme francês sobre a relação entre dois irmãos. O caçula enfrenta problemas pessoais e, para fugir da realidade, participa de encenações de batalhas históricas. O irmão mais velho, na tentativa de ajudar o caçula, começa a participar dos jogos com o irmão, mas se envolve a ponto de não conseguir mais separar os limites entre a realidade e a encenação. A dupla de protagonistas é super afinada, com os ótimos Jérémie Renier (de “O Silêncio de Lorna” e “A Criança”, ambos dos irmãos Dardenne) e Vincent Perez (mais famoso por “A Rainha Margot”).

18.
500 Dias com Ela
A princípio, tem-se a sensação de estar assistindo a um filme da Nora Ephron. Comédia romântica com música encantadora, visual clean, e até desenhinhos animados. Aos poucos percebe-se que, na verdade , trata-se de um romance sem o típico final feliz hollywoodiano, em que os papéis se invertem, pois a mulher age com a razão, é fria, e não consegue se apaixonar, e o homem é o lado frágil, cego de paixão, que é “pisado” por ela. No fim, a conclusão a que se chega é que a mulher dos seus sonhos pode não ser a mulher ideal para você.

19.
Singularidades de Uma Rapariga Loura
É admirável que aos 101 anos o português Manoel de Oliveira, cineasta mais idoso em atividade no mundo, ainda faça filmes belíssimos como este. Tenho um pouco de dificuldade de assistir a seus filmes devido ao ritmo um tanto prolífico. Mas este foge a esta regra, com ritmo dinâmico, em pouco mais de uma hora, conta a agradável história de um contador que se apaixona perdidamente por uma loira que mais tarde mostra que não é exatamente como aparentava. Baseado em conto de Eça de Queirós.

20.
Dor-Fantasma
História tocante, baseada em fatos reais, de um ciclista que sofre um acidente e passa a ter que conviver com a falta da perna esquerda. Filme alemão com ótimas atuações e roteiro bem amarrado.

21.
Ricky
Adoro os filmes do francês François Ozon, por mais irregular que seja sua filmografia. Realizou “8 Mulheres”, “Swimming Pool”, “Amor em 5 Tempos”, “O Tempo Que Resta” e “Angel”. Aqui Ozon usa o surrealismo para tratar de uma mãe solteira que leva uma vida dura trabalhando numa fábrica. Depois fazer sexo com um colega no banheiro do trabalho, ela engravida e os dois passam a morar juntos, em meio a constantes desavenças. Até o nascimento do menino Ricky, a vida de Katie é uma desgraça. Quando o menino chega, situações mágicas começam a acontecer, como se a chegada dele representasse sua redenção.

22.
Flor Congelada
Filme de época que se no Império chinês do século XIV, no estilo das obras de Zhang Yimou, com direção de arte irretocável, figurino de época deslumbrante e cenas grandiosas de lutas. A diferença é que a trama é um tanto curiosa e original. O rei e o chefe da guarda têm uma relação quase de marido e mulher, dormem juntos, e a rainha dorme num quarto separado. Até que a dinastia ‘de oposição’ começa a pressioná-lo para gerar um herdeiro, o que faz com que tenha a ‘brilhante’ idéia de solicitar ao seu amante que engravide a rainha para assim gerarem o sucessor do trono e proteger a independência do reino.

23.
London River – Destinos Cruzados
Protagonizado pela ótima Brenda Blethyn (de “Segredos e Mentiras” e “O Barato de Grace”), retrata o drama de uma mãe interiorana cristã que, há tempos sem ter notícias de sua filha que estuda em Londres, vai à capital inglesa para tentar encontrá-la, quando conhece o enigmático muçulmano Ousmane, que também procura seu filho. Os dois acabam colocando as diferenças culturais de lado quando se vêem na mesma situação de desespero e passam a se ajudar na busca de seus filhos. O malinês Sotigui Kouyaté, de 73 anos, é experiente ator de teatro e ganhou o Urso de Prato de melhor ator no Festival de Berlim 2009 por este papel.

24.
Brilho de Uma Paixão
Ótima cinebiografia sobre John Keats, o último e mais importante poeta romântico inglês, com destaque para a brilhante atuação da pouco conhecida Abbie Cornish. A direção é da neozelandesa Jane Campion, que foi a primeira mulher na história a receber a Palma de Ouro em Cannes por “O Piano”, em 1993. Com visual inebriante, o filme lembra as adaptações cinematográficas das obras de Jane Austen.

BONS **
25.
Ervas Daninhas
O veterano Alain Resnais, de 87 anos, é responsável pelo clássico “Hiroshima Meu Amor”, de 1959. Seu filme anterior foi “Medos Privados em Lugares Públicos”, que retratava personagens solitários, neuróticos, angustiados, cheios de anseios e fantasias secretas. Este novo filme também trata de vários personagens entrelaçados de forma meio surreal. No entanto, é bem mais leve, otimista, fantasioso, e retrata o amor na terceira idade satirizando os o imaginário das histórias de amor francesas.

26.
O Arquiteto
Arquiteto bem sucedido viaja com a família para uma cidade de interior para o funeral de sua mãe. Em e meio a muitas brigas e discussões, fatos do passado emergem para complicar ainda mais a relação do patriarca com sua família. Único filme alemão que assisti nessa Mostra, não me empolgou muito. Apesar de interessante, a história demora um pouco pra deslanchar.

27.
Abraços Partidos
Depois do primoroso “Volver”, dificilmente Pedro Almodóvar se superaria. E é difícil evitar a comparação entre os dois filmes, ainda mais repetindo a magnífica Penélope Cruz como protagonista. Talvez por isso tenha ficado uma sensação de frustração ao assistir a seu novo filme. Apesar da história um pouco mal resolvida, não faltam aqui os típicos elementos almodovarianos e diversas referências à própria arte de fazer cinema.

28.
Backyard
Dirigido pelo mexicano Carlos Carrera (de “O Crime do Padre Amaro”), trata-se de um bom thriller policial que retrata de forma crua a violência sexual contra as mulheres, através de um serial killer que assombra a pequena cidade de Juárez, na fronteira entre o México e os Estados Unidos.

29.
Aquiles e a Tartaruga
Filme menor e um tanto afetado do japonês Takeshi Kitano, responsável pelas obras-primas “Hana-bi, Fogos de Artifício, “Dolls” e “Verão Feliz”. Retrata o desespero de um pintor que desde jovem faz de tudo para ser reconhecido como artista, ultrapassando os limites do bom senso.

30.
American Swing
Documentário curioso sobre o Plato’s Retreat, clube de swing que fez sucesso em Nova York nos anos 70, no auge da revolução sexual e da efervescência noturna, e sobre seu fundador, Larry Levenson, que pregava a liberdade sexual em entrevistas em programas de TV, era considerado um rei pelos liberais e rechaçado pelos conservadores. Interessante assistir aos depoimentos de alguns casais que freqüentavam a casa e até hoje, já idosos, continuam casados, e contam com saudosismo suas experiências na casa de swing.

31.
O Solista
Difícil acreditar que este filme foi dirigido pelo inglês Joe Wright, responsável por “Desejo & Reparação” e “Orgulho e Preconceito”, ambos adaptações de livros de Jane Austen. Mas o filme não é ruim. Retrata a amizade que um repórter (Robert Downey Jr.) estabelece com um mendigo (Jamie Foxx), que toca um violino com apenas duas cordas e sofre de esquizofrenia. Interessante observar que Los Angeles também possui uma região miserável, chamada Skid Row, onde de fato as filmagens foram realizadas.

32.
A Ressurreição de Adam
Interessado retrato de um homem que é enviado para a guerra e é obrigado a se comportar como cachorro nas mãos de um comandante no campo de concentração. Anos depois, vive em um sanatório no meio do deserto e conhece um menino de 12 anos que acredita ser um cachorro.

33.
Voluntária Sexual
Normalmente vemos os deficientes físicos, ou político-corretamente falando, portadores de necessidades especiais, como pessoas assexuadas. Não nos damos conta que são seres humanos como todos nós, e que portanto, também têm desejos sexuais. Só essa premissa já demonstra o mérito que este filme tem, e não é à toa que ganhou o prêmio principal do júri da Mostra este ano. Mas a história poderia ter sido contada de uma forma um pouco mais concisa, pois as pouco mais de 2h custam um pouco pra passar.

REGULARES *
34.
Insolação
Primeiro filme que realizaram juntos os colaboradores de palco Felipe Hirsch e Daniela Thomas. São belíssimos os planos da cidade de Brasília, com sua arquitetura fria em grandiosa em meio à vastidão do cerrado. Cenário perfeito para retratar a sensação de solidão e desamparo dos personagens. O filme ainda conta com elenco invejável (Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, Paulo José, Leandra Leal e Maria Luisa Mendonça). Entretanto, é cansativo ao cubo, arrastadíssimo e pretensioso ao extremo. Lembra aquelas peças de teatro cabeça que ninguém entende nada, mas sai fazendo pose de intelectual. Talvez devido à inspiração na literatura russa. Parece uma declamação de poemas com quase duas horas de duração.

35. Uma Solução Racional
O argumento desse filme sueco até que é interessante: dois amigos trabalham numa fábrica; um começa a ter um caso com a mulher do outro; quando todos descobrem a traição, decidem propor que os quatro passem a viver juntos até que o “desejo” esfrie e tudo volte à normalidade. Mas a curiosidade passa depois dos vinte primeiros minutos de projeção. O filme é arrastado e repleto de piadinhas sem graça (que muita gente no cinema ria, mas eu não conseguia achar a mínima graça).

36.
A Batalha dos 3 Reinos
O diretor chinês é mestre de filmes de ação de sucesso holywoodianos. Dirigiu “Missão Impossível 2” e um dos meus filmes de ação preferidos de todos os tempos:“A Outra Face”. O seu último filme lembra muito “O Senhor dos Anéis – As Duas Torres”, mas tem infindáveis 2h30 de duração, com grandiosas cenas de lutas épicas que me fizeram quase morrer de tédio.

37.
Coweb
Japonês que mais parece um filme de ação que passa na “Sessão Tarde”. Clichê até dizer ‘chega’, não chega a ser entediante, pode até divertir a quem procura um filme bobo em que uma lutadora de artes marciais entra, sem perceber, num game de apostas transmitido pela internet.

38.
Colin
Filme de terror com zumbis cujo interesse se restringe ao fato de ter sido realizado com um orçamento de apenas 70 dólares e o diretor ter recrutado os realizadores através de páginas de relacionamento na internet. O filme abusa do quesito ‘tosqueira’ e tenta sem sucesso ser o novo “A Bruxa de Blair”.

39.
Zero
Filme polonês chatinho do estilo “várias histórias que se cruzam”.

40.
Macabro
Filme de terror de Cingapura, de uma dupla de diretores intitulada “The Mo Brothers”. Casal recém-casado e amigos partem em viagem, quando se deparam com uma garota sem rumo que parece ter sido vítima de roubo. O grupo interrompe a viagem para levar a menina em casa, de onde não conseguem mais sair, e onde se inicia uma noite sangue e torturas, que inclui um parto no meio da chacina. Este foi certamente o filme com mais sangue que assisti na minha vida, em que os personagens chegam escorregar. Assisti sozinho numa sessão da meia-noite na enorme Sala 1 do Cine Bombril, e foi engraçado observar os poucos espectadores deixando a sala no decorrer do filme, o que aumentou ainda mais a minha sensação de terror pois no final estava quase sozinho na sala.

41.
35 Doses de Rum
Homem viúvo vice sozinho com filha e os dois têm uma relação que parece de um casal, tanto que demorei para perceber que se tratava de pai e filha. É daqueles filmes franceses que nada acontece, os personagens vão vivendo suas vidas e você apenas os observa. Entediante.

42. Um Homem Qualquer
Atriz se apaixona por paulistano desempregado e derrotado que é objeto de “laboratório” de seu amigo do teatro. Vendo-se sem saída diante de sua insignificância e falta de dinheiro, o homem decide seqüestrar um rico “capitalista” e acaba envolvendo a namorada no crime. Filme sem graça, com história sem noção, e personagens medíocres, com direito a um mendigo intelectual da USP que declama filosofias de botequim na Praça da Sé, interpretado por Carlos Vereza.

43.
Os Famosos e os Duendes da Morte
O filme tem personagens simpáticos, boas atuações e visual bacana. Mas é difícil agüentar a 1h40 de exibição sem bocejar e se remexer na cadeira ao assistir a esse filme metido a cult. Um adolescente é fã de Bob Dylan e vive numa cidadezinha do interior do Rio Grande do Sul, tão entediante que as pessoas querem literalmente se suicidar. Não consegui entender porque o filme ganhou o prêmio da crítica do Festival do Rio. Talvez eu não tenha entendido a mensagem, mas esperava mais do filme de estréia de Esmir Filho, que até já ganhou prêmio de melhor roteiro em Cannes por um de seus curtas.

PÉSSIMO –
44.
Alô, Alô, Terezinha! –
Para lembrar dos tempos do Chacrinha é mil vezes preferível assistir ao excelente documentário “Rita Cadillac, a Lady do Povo”, de Toni Venturi, que passou na Mostra de 2007. Muito mais inteligente e respeitoso. Esse documentário se resume a matar a curiosidade do público em saber por onde andam as chacretes hoje em dia, e as expõe a situações vexatórias, ridículas, fazendo-as, por exemplo, vestir os maiôs que usavam no programa, com direito a exposição de uma delas nua, rebolando numa fonte. Mais apelativo que o “Programa do Ratinho”.

45.
Ashlan, O Anel Encantado e Outras Histórias –
Confesso que cheguei atrasado e perdi o início do filme devido ao cronograma apertado de cinco filmes que tinha pra assistir naquele dia. Mas não entendi quase nada desse besteirol iraniano sem pé nem cabeça. Muita gente se esbaldou de rir na sala, mas eu não consegui achar a mínima graça dessa história sobre dois cegos assaltantes, um suicida, uma vendedora e um escultor.

46.
A Sereia e o Mergulhador –
Não só é o pior filme que assisti na Mostra este ano como talvez um dos piores que vi na vida. Logo no início assistimos à matança de tartarugas marinhas, com longos planos delas sendo destroçadas com facão de açougueiro (nesse momento várias pessoas não suportam e se retiram da sala). Pra completar, assistimos em seguida a um parto normal e real, num hospital imundo de um povoado qualquer na América Central, com direito a close na placenta escorrendo. Pra completar, a história é totalmente desinteressante.

Um comentário:

Mônica disse...

Tô acompanhando tudo e me divertindo. É o máximo!